“Vai dormir senão não cresce, menino!” Quem nunca ouviu isso quando criança?

De fato, os cientistas confirmaram o que as avós já sabiam há tempos: os bebês crescem depois de uma noite de sono. As descobertas de um primeiro estudo do tipo, que mede a relação entre o crescimento diário e o sono, mostra que as duas coisas são indissociavelmente ligadas.

Dormir em horários regulares e num ambiente calmo, adequado ao sono, é essencial para o desenvolvimento físico e mental das crianças. Especialistas alertam que criança que não dorme direito, além da sonolência durante o dia, pode ter alterações de humor, de apetite, desatenção nas atividades escolares e cotidianas, além de problemas no crescimento.

Os resultados de um estudo, publicado na revista "Sleep", mostraram o crescimento de crianças que dormiram 4,5 horas extras por dia (em média três sonecas a mais por dia) durante dois dias. A conclusão é que o estirão ocorre nas 48 horas do aumento de sono.

E quanto mais o sono do bebê aumenta, maior a probabilidade de crescimento. Os números mostram que a probabilidade de um bebê experimentar um surto de crescimento aumenta a uma média de 43% para cada episódio de sono adicional.

“Os resultados mostram que o crescimento não só acontece durante o sono como é influenciado por ele”, diz Michelle Lampl, do departamento de antropologia da Emory University em Atlanta, Georgia.

Durante o estudo, 23 pais gravaram o sono diário das crianças, começando quando os bebês tinham, em média, 12 dias de vida. Entre quatro e 17 meses, o crescimento dos bebês foi avaliado. Os autores do estudo perceberam que a secreção do hormônio do crescimento aumentou depois que os bebês foram dormir e durante a fase de sono de ondas lentas.

Enquanto a criança dorme, além de crescer, ela consolida a memória e fixa o que aprendeu durante o dia. Segundo a coordenadora do grupo de estudos sobre o sono da Sociedade Brasileira de Pediatria, Magda Lahorgue, isto ocorre devido a uma série de processos químicos e neurofísicos que fazem a pessoa dormir.

"O sono restaura as energias para o dia seguinte. Além disso, o pico do hormônio GH (do crescimento) é noturno. Se não há um bom sono, pode não ser atingida a estatura esperada", alerta Magda. Para o médico pediatra e homeopata Yechiel Moises Chencinski, competitividade, cobranças, obrigações, muitas atividades extracurriculares, ambiente familiar conturbado ou até mesmo doenças - como febres e resfriados - são fatores que podem interferir no sono. "Distúrbios emocionais também podem interferir na qualidade do sono", salienta.

De acordo com Magda Lahorgue, refluxo e alergias, além do consumo de alimentos com cafeína perto da hora de deitar, também podem ser motivos de noites mal dormidas. Outro vilão é o hábito de dormir com a televisão ligada, que piora muito a quantidade e a qualidade do sono.

Magda recomenda que o ambiente onde a criança dorme tenha temperatura agradável, pouco som e luzes baixas para que o sono do pequeno respeite o número de horas referente à sua idade. "Os pais devem regular o horário de ir para a cama e criar uma expectativa boa para o sono, evitando, por exemplo, o medo de dormir no escuro", completa.

Chencinski concorda: "Rotinas devem ser estabelecidas desde os primeiros meses, com limites nos horários de ir para cama e de acordar", confirma. Se após todas as tentativas o problema persistir, o médico pode indicar homeopatia ou fitoterapia, que não têm contraindicações e efeitos colaterais.

 

E o hormônio do sono é liberado em qualquer período da noite?

O GH, hormônio do crescimento, costuma ser liberado no início da noite, entre 23h30 e 2h30 da manhã. Isso quer dizer que não somente a quantidade de horas que uma criança dorme é importante, como também a hora em que ela dorme.

O hormônio do crescimento é liberado na fase profunda do sono. Por isso, para que a criança esteja em sono profundo no momento da liberação do hormônio, é importante que ela vá dormir por volta das 21 horas.

Por esse motivo, crianças que dormem muito tarde podem ter o crescimento prejudicado. Além disso, noite de sono ruins estão relacionadas ao maior risco de obesidade e até Alzheimer na fase adulta.

 

Dos ciclos de sono a uma noite inteira dormindo

A médica Mada Lahorgue lembra que o recém-nascido dorme em ciclos de duas a três horas. O bebê dorme, acorda, mama e dorme novamente, independentemente de ser noite ou dia.

Após os dois meses, os ciclos noturnos ficam mais longos e os diurnos, mais curtos. Já a partir dos 6 meses, o sono noturno acontece em dois grandes ciclos, começando a ficar mais regular.

Do primeiro ao segundo ano de vida, aproximadamente, a criança já dorme a noite toda, com períodos de soneca pela manhã e depois do almoço. A partir do terceiro ou quarto ano, só ocorre uma soneca rápica diurna, em geral após o almoço. Acima dos 6 anos, o sono já se concentra todo durante a noite.

 

 

Referências:

Pesquisa diz que sono faz crescer. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/pesquisa-diz-que-sono-faz-crescer-2775487 Acesso em: 24/03/19.

Falta de sono atrapalha o crescimento. Disponível em: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/saude/bem-estar/falta-de-sono-atrapalha-o-crescimento,21083f04c2f27310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html Acesso em: 24/03/19.