É possível recuperar uma noite de sono perdida?
“Ah vou dormir pouco hoje, mas amanhã eu recupero!” Será mesmo que isso é possível?
Embora cada pessoa tenha seu tempo ideal de sono, a maior parte delas precisa dormir entre 7 e 8 horas para descansar efetivamente. E não, esse tempo não pode ser recuperado. Já ouviu o ditado: “O sono é sagrado. Ele nunca é reposto”? Pois é, mesmo antigo, esse ditado tem toda razão. Podemos diminuir a sensação de sonolência, mas recuperar o sono perdido não é capaz de melhorar o desempenho cognitivo do indivíduo.
Uma pesquisa da Universidade de Penn State (EUA), publicada no American Journal of Physiology-Endocrinology and Metabolism, mostrou exatamente isso. Reparar as horas de sono consegue até diminuir o cansaço, mas não evita outros problemas no organismo decorrente de várias noites mal dormidas.
Esse estudo foi feito com 30 adultos saudáveis por um período de 13 dias. Nas primeiras quatro noites, eles dormiram por 8 horas; nos seis dias seguintes, por 6 horas; e nos últimos 3 dias do experimento puderam ter uma noite de sono de até 10 horas. Foi analisada a atividade cerebral dos participantes durante o sono, além das taxas de hormônios e outros compostos do sangue.
Os participantes foram submetidos a testes de atenção e o desempenho depois de dormir até 10 horas foi o mesmo de quando dormiram poucas horas. Desta maneira, a conclusão foi que não é possível compensar o sono “perdido”.
Monica Andersen, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretora do Instituto do Sono, conta sobre outro experimento realizado há cerca de quarenta anos, mas que hoje, por motivos éticos, não pode ser repetido, em que um jovem de 17 anos foi privado de sono por 11 noites. Quando foi autorizado a descansar, dormiu por 15 horas e, nos dois dias seguintes, dormiu só duas horas a mais que o normal. A especialista afirma que o esperado era que o período de sono dos próximos dias fosse bem maior.
No entanto, mesmo que as horas de sono perdidas não possam ser recuperadas, é importante aproveitar os momentos livres e os finais de semana para descansar um pouco mais. Os cochilos após o almoço, inclusive, podem ajudar muito.
Entretanto, abusar e acordar muito tarde aos finais de semana pode ser bastante prejudicial para a qualidade do sono nos outros dias. “O relógio biológico fica desregulado e a longo prazo pode ser prejudicial, causando distúrbios do sono. O ideal é ter uma rotina de descanso regular”, explica Renata Federighi, consultora de sono da Duoflex.
Em outro estudo realizado pela Universidade Baylor, no Texas, Estados Unidos, alguns cientistas monitoraram os padrões de sono de 28 alunos e viram que 79% deles dormiam menos de sete horas em, pelo menos, três dias na semana. Para a autora do estudo, Elise King, é mito que as ideias surgem na madrugada. Ela cita a ansiedade e outros danos emocionais como consequências disso.
De acordo com esse mesmo estudo, dormir por muito tempo para compensar o cansaço ou correr atrás de recuperar o sono no fim de semana pode ser prejudicial porque está no contrafluxo do funcionamento do organismo: na hora em que deveria despertar, a pessoa está dormindo. O resultado são efeitos negativos como dores no corpo, alteração de humor e privação da vida social, no caso da pessoa tirar o fim de semana ou um feriado para dormir, por exemplo.
Além das horas de sono necessárias para cada pessoa, a qualidade desse descanso é importante para a manutenção da saúde do corpo e da mente. Estudos comprovam que quem dorme menos do que o necessário tem menos vigor físico, envelhece precocemente e está mais propenso à doenças. “A recuperação do sono deve ser feita de forma gradual e a longo prazo para restaurar o padrão natural”, finaliza Federighi.
“Na noite em que não dormiu, a pessoa teve uma produção excessiva e irregular de hormônios e de neurotransmissores, alterando o funcionamento do metabolismo. O organismo como um todo foi afetado, e isso não regenera”, explica Andrea Bacelar, médica da Associação Brasileira do Sono.
Segundo Andrea, se a pessoa se privar do sono no ciclo noturno, o momento fisiológico ideal para dormir, ela pode compensar cochilando durante o dia. “Mas isso tem que ser um hábito, é uma forma para não ter grandes prejuízos a longo prazo”, alerta.
Quais os perigos da privação de sono a longo prazo?
“Somos uma sociedade que não dorme”, diz Andersen. “Nós queremos uma padaria aberta às 4h. O custo social e econômico para a saúde [como diabetes, aumento da pressão arterial e problemas de memória] dos indivíduos privados de sono é muito alto”.
A privação do sono pode estar relacionada até a uma diminuição da expectativa de vida. De acordo com alguns pesquisadores norte-americanos, dormir pouco pode causar o aumento de moléculas no organismo relacionadas a quadros de inflamação, pode elevar a quantidade do hormônio cortisol (que é secretado em situações estressantes), além de desregular os níveis de açúcar no sangue.
Outro estudo similar, do Karolinska Institute, de Estocolmo (Suécia), mostrou que quando os voluntários dormiram 4 horas por noite durante cinco dias e depois compensavam a falta de sono dormindo por 8 horas na semana seguinte, embora não tivessem mais sonolência, ainda apresentavam problemas cognitivos.
Como podemos concluir, não é possível recuperar o sono perdido dormindo mais aos finais de semana. É importante nos organizarmos e aumentar, aos poucos, as horas de sono ao longo da semana.
Referências:
É possível recuperar uma noite de sono perdida?. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2018/04/e-possivel-recuperar-uma-noite-de-sono-perdida.shtml Acesso em: 24/03/19.
Falta de sono atrapalha o crescimento. Disponível em: https://www.duoflex.com.br/blog/compensar-o-sono-atrasado-pode-comprometer-a-saude/ Acesso em: 24/03/19.
É possível recuperar o sono perdido?. Disponível em: http://www.acordarfeliz.com.br/recuperar-o-sono-perdido/ Acesso em: 24/03/19.
Compensar sono perdido dormindo mais depois é prejudicial à saúde. Disponível em: https://catracalivre.com.br/saude-bem-estar/compensar-sono-perdido-dormindo-mais-depois-e-prejudicial-saude/ Acesso em: 24/03/19.
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